A palavra upanisad é o nome de um determinado assunto, autoconhecimento, exatamente como as palavras geografia e biologia são nomes que denotam específicos temas. Portanto, o sentido da palavra upanisad é autoconhecimento. A palavra em si mesma é constituída de dois prefixos ( upa e ni ) e a palavra sat ou sad, originária da raiz sad. Esta raiz tem um triplo sentido: desgastando (visaranam); pondo um fim em (avasadanam); e alcançando ou conhecendo (gamanam). A palavra sat é o agente da ação indicado por sua raiz e portanto significa aquilo que esgota, põe um fim a, e faz com que você alcance ou conheça. Visto que a raiz sad tem esses três sentidos, precisamos ver se os três são aplicáveis aqui ou apenas um ou dois. Concluímos que os três se enquadram, como é evidente pela palavra sat e pelos dois prefixos upa e ni. O prefixo ni significa exatidão, aquilo que é bem determinado. Por essa razão, o conhecimento é denominado ni. O prefixo upa significa aquilo que é o mais próximo. O mais próximo é o si mesmo, “EU”, atma, e a respeito deste “EU” há confusão O que tenho que saber para remover essa confusão não está longe de mim. Porque não é diferente de mim mesmo, a expressão “o mais próximo” é usada na falta de outra melhor. Então, os dois prefixos juntos, upa-ni, significam o exato conhecimento do “ser”. Este conhecimento destrói nossos sofrimentos, significando que os desintegram. Eles realmente desaparecem e não retornam, nem nesta vida, nem em outra. O autoconhecimento remove-os para sempre. Isto porque a raiz causadora do sofrimento é a ignorância acerca de si mesmo. O autoconhecimento remove a causa do sofrimento de um modo tão completo que também põe um fim em seu produto. Exatamente como uma árvore, se cortada, não mais crescerá, desde que suas raízes tenham sido completamente destruídas. Assim, também, o sofrimento não voltará a ocorrer, uma vez que sua causa, a auto-ignorância, tenha sido removida pelo autoconhecimento.
A ignorância do fato de que o ser (atma) é o todo (brahman) é a causa de todo sofrimento e esta ignorância do atma ser brahman vai no despertar do conhecimento. Como isto acontece? O conhecimento de si mesmo possibilita o reconhecimento de si mesmo como brahma (brahma gamayati). Este reconhecimento é o próprio conhecimento. Autoconhecimento, então, é o assunto denominado upanisad, encontrado na última parte do veda. A palavra vedanta indica a localização do assunto, anta significa fim. Assim, vedanta é upanisad. A palavra upanisad, em si mesma, revela o desejo de ir ao encalço desse conhecimento porque o seu resultado é o fim do sofrimento. Autoconhecimento é algo que pode ser alcançado – e para isso torna-se necessário um meio de conhecimento (pramana). Este meio de conhecimento é vedanta, a última parte do veda, cujo assunto é upanisad, autoconhecimento. O assunto em si mesmo torna-se o nome dos textos de vedanta – as upanisads. O plural é usado porque há quatro vedas e, portanto, quatro antas ou fins. Como um todo, eles são designados como upanisads, mas no que se refere ao assunto, há um só. Não existindo plural, temos apenas upanisad. As upanisads estão na forma de vários diálogos, sendo que, como o assunto é um só, a cada um deles denominamos upanisad. Pelo mesmo motivo, cada texto é também chamado upanisad, que é o nome de seu assunto; assim como qualquer obra referente à história americana ostenta o título “História Americana”. Aqui, igualmente, um livro que trata do autoconhecimento é intitulado “Autoconhecimento”, o significado de upanisad. Em virtude de serem muitos os diálogos entre professor-aluno, existem várias upanisads. Para distinguir umas das outras, uma determinada palavra precede o termo upanisad em cada título. Assim temos isopanisad, kenopanisad, prasnopanisad, kathopanisad, mundakopanisad, mandukyopanisad, taittiriyopanisad, aitareyopanisad, chandogyoopanisad e brhadaranyakopanisad, entre outros. A primeira palavra da isopanisad e da kenopanisad, isa e kena, respectivamente, aparecem nos títulos apenas para diferenciar estes diálogos de outros. De modo similar, todas as outras upanisads vêm com palavras que não têm outro sentido senão o de identificar um determinado diálogo. Acadêmicos modernos classificam as dez upanisads acima citadas como as principais upanisads, somente porque Sankara escreveu comentários sobre elas. Porque o assunto é o mesmo, são dispensados comentários para as outras. Sankara julgou que o estudo dessas dez habilitaria o estudante a entender o assunto tratado. Por essa razão, essas dez tornaram-se conhecidas como as principais upanisads e as restantes são vistas como secundárias. As palavras “principais” e “secundárias” de modo nenhum pretendem refletir uma possível relação de qualidade das upanisads, servem apenas para indicar se sobre elas Sankara escreveu comentários, ou não. Embora não incluídas na lista das dez, Sankara, na verdade, citou diversas outras upanisads, tais como, paramahamsopanisad, kausitakyopanisad, svetasvataropanisad e kaivalyopanisad. As upanisads, então, constituem-se como livros-fonte desse conhecimento e sobre elas decorrem os comentários do professor.
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