É provável que em um período de 3000 a 2000 a.C, floresceu no vale do Índus a civilização do mesmo nome. Escavações arqueológicas realizadas por John Marshall, Mackay, Wheeler, Siddigi, Dikshit, Vats e Hargreave desenterraram as ruínas das cidades de Moenjodaro e Harappa. A civilização do Índus foi nitidamente urbana. Mohenjodaro era dividida numa parte alta e outra baixa, suas construções eram de tijolos cozidos em forno e possuía um grande sistema de esgotos, o primeiro que se têm notícias. A cidade era dividida em bairros, cortados por ruas e ruelas, formando quadras. As ruas eram largas e retas, com mais ou menos 10 metros de largura. As ruelas possuíam de um lado a outro de 2 a 4 metros e as casas tinham a entrada voltada para elas. Na cidade baixa as quadras eram geometricamente exatas, urbanizadas. As casas em geral eram simples e nada belas, mas bastante confortáveis, possuindo quase sempre cisternas, banheiros, antecâmaras, escadas para andares superiores, pátio e piscina o que lembra os grandes banhos e os rituais sagrados. Havia fosso alimentado por canalizações subterrâneas, o que evidenciava o avanço técnico e a importância à higiene. Vê-se nessa civilização pré-ariana, obras importantes de arquitetura, arte que desapareceu com a chegada dos arianos. Devido à fertilidade do vale de Mohenjodaro e Harappa, supõe-se que os homens aí viveram em abundância, usando a bacia do Índus como meio de transporte, negociando por terra para a Ásia central, o sul da Índia, a Pérsia e o Afganistão.
Existem muitas hipóteses para o declínio e desaparecimento da civilização do Índus, como: enchentes, epidemias, e a seca do rio Sarasvati, mas a mais provável é a de que as sucessivas incursões de arianos, tenham aos poucos dizimado a população autóctone. Os arianos ou ários, viviam provavelmente na Ásia Central e migraram em várias direções subjugando outros povos, impondo sua inteligência e força. É possível, que a civilização do Índus já estivesse em declínio quando ocorreram as invasões arianas. A língua dos drávidas do sul, já era falada antes da invasão, indicando a coexistência pré-ariana da escritura dravidiana e do Índus. É possível que com a migração do povo árya, os drávidas tenham migrado para o sul e assim explica-se a presença da língua drávida no sul da Índia e no Beluquistão.
A escritura do Índus é toda ela curta, presente em taboinhas de bronze, selos e sinetes de esteatita. Nas tábuas quase sempre aparece uma figura central de forma animal- búfalo, elefante, tigre, rinoceronte, unicórnio ou mesmo figuras humanas com chifres e rabo. Acima das figuras era colocada a escrita, composta em uma, duas ou três linhas.
Foram encontradas também inúmeras obras de arte, esculturas de terracota representando miniaturas de animais, homens e mulheres, que supõem-se sejam representação da deusa-mãe, culto comum na antiguidade oriental, que aparecerá no Hinduísmo posteriormente. Encontrou-se também a escultura de um homem vestido com um manto esvoaçante e que devido ao porte sereno e majestoso se deu o nome de Rei-Sacerdote, representando a figura do homem-deus, o protótipo do yogue. Isto é reforçado pela descoberta de um sinete de esteatita representando um homem sentado sobre um trono, cercado pelas figuras de quatro animais: um elefante, um rinoceronte, um tigre e um búfalo. Sob o trono há gravado o que se pensa serem antílopes, e o homem tem os olhos voltados para o ponto entre as sobrancelhas. Tal sinete lembra imediatamente o deus Shiva, da Índia védica, chamado de “ Senhor das Feras” – Pashupati, pela postura corporal, pelos animais que o cercam e pelo olhar entre as sobrancelhas que é uma prática de Yoga chamada ekagrata..
O Hinduísmo também herdou dos drávidas o culto ao aspecto feminino da divindade, assim como a sacralização da água e do sexo, influência essa presente nos ritos, nas idéias filosóficas e nas técnicas tântricas. A origem pré-vêdica do Yoga, vincula o Yoga-Vêdico a uma tradição shivaíta.
A Índia gerou quatro tradições importantes para as grandes religiões do mundo. – OHinduísmo – o Budismo – o Jainismo – e o Sikhismo. Nenhum outro lugar deu ao mundo uma contribuição tão grande como a Índia.
O termo Hinduísmo se aplica às várias tradições que têm um vínculo histórico e ideológico com a antiga cultura védica de seis mil anos atrás e que assumiram sua forma característica nos primórdios do primeiro milênio d.C. O Hinduísmo é toda uma cultura datada de um estilo de vida próprio; é caracterizado por uma estrutura socil singular: o sistema de castas.
O Sistema de castas.
O contraste entre o povo arya de pele clara, nariz aquilino e os nativos drávidas de pele escura e baixa estatura deve ter sido a origem das castas. Os drávidas passaram a ser chamados de dasasvocábulo que designava os naturais da terra e que passou a significar escravo e os aryas chamados de brahmanes. Os aborígenes passaram assim a ser os escuros ou sem casta e seriam mais tarde chamados de párias e quem quer que os tocasse se tornaria impuro, até que Mahatma Gandhi em pleno séc XX, os chamará de karijans (filhos de Deus).
Com o desenvolvimento histórico, houve uma divisão dentro da casta dos brahmanes (arya) surgindo os kshastryas que haviam abandonado seu dever e tinham os membros vermelhos- Os que eram amarelos e viviam da criação de gado eram os vaishyas. Os que viviam de todo o tipo de trabalho e eram cobiçosos e eram negros mergulharam na condição de shudras.
Para compreender o Hinduísmo, o melhor é considerá-lo um processo sociocultural complexo, que se desenrolou na dinâmica entre a cntinuidade e a descontinuidade, entre a persistência de formas antigas e a assimilação de novas expressões da vida cultural. A partir de um determinado ponto de vista, pode-se dizer que o Hinduísmo começou com a civilização Védica ( 5º Milênio a.C.). A partir de outro ponto de vista,. existem certas diferenças muito importantes entre a cultura sagrada Védica e o Hinduismo de hoje. Todos os indícios nos levam a crer, que os arianos, que falavam o sânscrito, compuseram os Vedas. Há uma possibilidade de que eles não tenham sido povos nômades primitivos que vieram de fora da Índia, mas que lá já viviam e que eram filhos de solo indiano.
Através deste entendimento, pode-se fazer um estudo histórico da Índia dividindo por períodos que expressam estilos culturais. A historia é um processo contínuo e suscetível a estudos constantes através de antropólogos que cada dia descobrem novos povos e fazem novas escavações, mudando assim muitas vezes o rumo de uma história que parecia já definida. Não há dúvidas que os Vedas devem ser considerados frutos de uma época muito anterior ao marco referencial de 1900 a.C.
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